quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Morgan, O amor é real



Cap. I
Quedas e Injúrias

Amanheceu. Era mais uma terrível segunda-feira de pura ressaca para Daniel Morgan Reeves, o caça-talentos da Blue Star, uma das mais famosas empresas de modas do mundo, que diferente de muitas, possuía sua matriz no Brasil. Seu celular despertou tocando a música Jump da banda Van Halen. Ele abriu os olhos e percebeu que não estava sozinho. Havia uma linda, magra e alta loira em sua cama; Ela sustentava o seu gosto por mulheres e, sem dúvidas era uma aspirante a modelo. Morgan desligou o despertador do celular e sentou-se à beira da cama d'água, ela, por sua vez se balançou, acordando aquela que o acompanhava e que sequer lembrava o nome. Ele flexionou os olhos num gesto de insatisfação ao sentir que havia despertado aquela mulher, afinal, seria extremamente fácil deixá-la no motel ainda dormindo acompanhada apenas do o valor da diária na cabeceira da cama, como sempre fazia com suas demais affairs. Mas, se lembrou de que havia quebrado a segunda, da sua lista de regras: ele havia levado àquela mulher para sua casa e, neste momento, se convencia em pensamento de que era um perfeito idiota.
    • Oi tigrão! – Ela disse ainda deitada.
    • Oi. – Soou seco.
    • E ai, como foi meu desempenho? Vai assegurar minha vaga na Blue Star? – Indagou convencida de que a resposta seria positiva.
    • Farei de tudo, haney! – Respondeu ainda dando de costas – Agora, por favor, tenho que ir. Dá pra você sair?
    • Uau! Você é tão direto, adoro homens assim! – Sentou-se por trás de Morgan abraçando-o pelos ombros, recostando carinhosamente sua face nas costas de Reeves.
    • Que bom, fica com eles! – Respondeu de forma grosseira, libertando-se dos braços dela. – Por favor, Rosana, eu tenho que ir! - Insistiu.
    • Letícia, meu nome é Letícia! Seu cafajeste... você não se lembra nem do meu nome?! – Reagiu indignada, vestindo-se apressadamente.
    • Letícia?! – Comprimiu seus lábios – Perdoe-me, meu bem. Sou péssimo com nomes. – Ergueu-se e seguiu até a porta – Esqueci duas vezes o nome da minha própria mãe, colocando em seu presente de aniversário o nome de outra mulher, talvez por isso ela tenha morrido de desgosto. – Riu irônico – Você acha mesmo que eu lembraria do seu, queridinha? – Sorriu novamente – Pelo amor de Deus, te conheci ontem!
    • Cafajeste! Otário! Filho da... – Irritou-se, deixando o quarto do hotel em que se encontravam, portando sua sandália vinil preta com salto Luiz XV e seu sobretudo de seda vermelho em mãos.
    • Está perdendo pontos comigo, hein! – Ameaçou.
Letícia mostrou seu dedo médio como símbolo de seu desagrado.
Morgan olhou para o relógio de pulso e reagiu:
    • Puta Merda! A chefia vai me matar! – Apressou-se até o elevador e seguiu rumo ao estacionamento. – Droga! Calça Jeans e túnica preta é legal, mas sapato vermelho neste contexto? Tô parecendo o Lulu Santos! – Entrou em seu Citroën Pallace e deu à partida, ligando, em seguida seu rádio mp3 que começou a tocar a música You shook me all night long do ACDC.
...
Ao chegar à empresa, Morgan desceu do carro e entregou a chave para o manobrista, em seguida, inspirou e expirou, levando o indicador direito sobre o meio do Ray-ban descendo-o sobre o corpo do nariz, avistando assim, a beleza do prédio da Blue Star – um arranha céus de doze andares com vidros espelhados nas janelas em tonalidade azul, em sua frente uma escadaria larga com oito degraus e dois corrimões duplos e dourados nas duas laterais, na entrada um tapete vermelho seguida em direção ao portal de vidro fumê de quatro metros de altura e um segurança de cada lado vestido uma farda vermelha à inglesa – ele empurrou os óculos para o lugar, sorriu um sorriso safado retirando um cigarro do bolso colocando-o entre os lábios, acendeu-o e direcionou-se para entrada.
Chegando ao estúdio de fotografia, ele soprou a fumaça presa na garganta, retirou a guimba da boca atirando-a na lata de lixo, acertando-a em cheio. Como um pré-adolescente ele comemorou:
- Uhu! – Ergueu os braços e sorriu – Sempre bom de mira, boy! – Completou.
- Daniel Morgan Reeves! – Soou firme e pausado – Você parece uma criança! – Julia Medeiros completou – Está atrasado! – Esbravejou.
Atentando-se em sua chefe, ele respondeu:
- Desculpe Julia, é que havia uma garota...
- Não quero saber dos seus casos amorosos, Morgan! – Irritou-se – Não chegue mais atrasado! – Ordenou, caminhando até a modelo que se preparava para a sessão de fotos, mas, após três passos retornou seu olhar para Morgan, fechando novamente seu semblante – Deveria parar de fumar, pois o cigarro mata lentamente.
- Não estou com pressa de morrer, Julia. – Respondeu, sorrindo.
Julia debochou e seguiu até a modelo.
Morgan, por sua vez, sentou-se em uma cadeira apoiando seus cotovelos sobre a mesa, observando a candidata em seus mínimos detalhes.
- Nossa, que mulher linda! – Ele disse baixinho observando a lasca do vestido vermelho que subia pela lateral até sua coxa – Que Legs! – Sussurrou e mordeu seus lábios inferiores – Legs brasileiras, amo muito tudo isso! – Pensou e sorriu com o canto da boca.
- Olá. – Soou seco – Qual o seu nome?
- Anna Annak, senhora! – Sorriu trêmula.
- Bom, pessoal, podem parar! Ela não serve para Blue Star. – Encarou Anna – Você não se adéqua aos padrões da empresa. Veste quanto? Uns 38?
- Sim senhora. – Soou doce, porém confusa.
- Pois bem, a Blue Star precisa de manequins 34. Você está fora dos padrões!
- Como assim?! Fora dos padrões?! Sou magra, possuo boa estatura e tenho um excelente currículo! – Exaltou-se – Como ousas me chamar de gorda? – Esbravejou sem escrúpulos – E você, veste quanto, uns 40? – Indagou debochante.
Morgan sussurrou:
- Isso ai garota, um a zero. – Morgan gritou erguendo os braços e, encarado rapidamente por Julia, reprimiu rapidamente sua comemoração, elevando sua atenção para outra candidata, a fim de disfarçar o que havia feito.
Julia voltou sua atenção para a candidata e furiosa respondeu:
- Olha aqui sua insolente, nesta empresa quem manda sou eu. E eu digo que você não se adéqua aos nossos padrões, entendeu ou quer que eu desenhe? – Gritou – Agora saia da minha frente! – Empurrou-a, e seguiu até o elevador.
- Quer a Blue Star só pra você, Julia?! Enfia naquele lugar onde não pega sol! – Esbravejou enquanto o elevador fechava as portas. – Anna, muito magoada com o que acabara de acontecer, olhou para a equipe que encontrava-se ainda assustada, desculpou-se pelas palavras de baixo calão e deixou o estúdio apressadamente.
Morgan ergueu-se para tentar uma conversa amigável e impedi-la de sair daquela forma do estúdio, mas, Anna apressada empurrou-o, fazendo-o cair da própria altura, em seguida, pisou na barra do longo vestido vermelho e desceu ao chão por cima de Morgan.
- Oh meu Deus! Desculpe-me! – Anna constrangida olhou dentro dos seus olhos.
- Não sou Deus, querida, sou apenas Daniel Morgan! – Sussurrou sério – Mas tenho certeza que és uma deusa! – Sorriu encantado.
- Anna Annak Albuquerque! – Apresentou-se um tanto sem graça observando a beleza daquele homem de meia idade.
- Hum... “A” ao cubo. – Brincou, em seguida, sorriu.
Morgan era um homem bonito, apesar de já ter alcançado os quarenta e cinco anos, passava dos um e oitenta de altura que, aliás, era a única coisa que realmente o diferenciava do ator americano Robert Downey Jr, possuía cabelos lisos e negros, levemente grisalhos, com um topete mantido para trás por intermédio de gel e um cavanhaque esculpido em seu queixo com extrema paciência. Era fino... quando queria... e engraçado, raramente ...bom, não tão raramente, pelo menos com as mulheres... sarcástico, porém extremamente galanteador.
- Aí, Morgan! – Zombou Rafael, seu melhor amigo – Existe motel, não sabia? – Gargalhou sendo acompanhado pelos demais da equipe.
- Perdão novamente! – Anna ergueu-se coagida e seguiu até o elevador.
Morgan riu e disse:
- Não é isso que está pensando, Rafael!
- Sempre diz isso, Morgan, sempre! – Respondeu convicto – Vá atrás dela, cara! Ela tem chances.
- A Julia acabou de dispensá-la, cara. – Baixou os olhos – Foi triste, a garota tá mal.
- Ela sempre muda de ideia e sobra pra você desfazer a merda. – Insistiu Rafael – Vai cara!
- É, tem razão! – Sorriu e seguiu rumo ao elevador.
- A propósito – Disse sério, friccionando os olhos intrigado –, tá copiando o estilo do Lulu Santos, brother? - zombou.
- Vai a merda, bitch! – Respondeu enquanto o elevador fechava suas portas.
...
Anna deixou o ascensor e seguiu rumo ao Bar Star sentando-se numa cadeira, em seguida, baixou o semblante por cima das mãos e apoiou os cotovelos na mesa de tampo cristal.
- Pois não, senhorita! – Disse o garçom – Em que posso servi-la? – Dênis era um rapaz alto, esguio, com o cabelo desfiado num corte Emo e, além disso, era extremamente educado e um pouco afeminado.
- Traga-me uma taça de vinho tinto com cicuta.
- Como senhorita? – Assustou-se – Cicuta não é um veneno?
- Vá! – Esbravejou.
Dênis estranhou e deu de costas para Anna, em seguida, foi surpreendido por Morgan em sua frente.
- Nada disso, Dênis, traga-nos duas cubas-livres, por favor!
- Falou chefe, o senhor sempre sabe o que pedir! – Sorriu.
Anna encarou Morgan, em seguida, baixou o semblante.
- Posso me sentar? – Sentou-se e cruzou suas pernas sem esperar resposta.
- Já se sentou, não é? – Respondeu.
- Eu vi sua performance. Você estava realmente linda. – Elogiou.
- Não o bastante para assegurar o emprego. – Secou suas lágrimas.
- Julia é sempre assim, são poucos os dias que ela se encontra maleável. – Pressionou seus lábios – E você a pegou justamente no dia de Snack! – Movimentou os dedos indicador e médio unidos e levemente curvados fazendo analogia as presas de uma cobra. – Mas não fique assim, você é realmente linda e possui um currículo muito bom. Vai ser fácil arrumar um emprego.
- Parece que não será tão fácil assim, não é mesmo? – Ironizou.
- Olha, se precisar de mim, pode contar comigo. – Pousou sua mão sobre a mão de Anna.
Ela olhou firmemente para Morgan, puxou sua mão velozmente e agrediu-o com palavras:
- E pra isso precisaria dormir contigo, não é? – Encarou-o irritada.
Constrangido, Morgan respondeu gaguejante:
- Não é nada disso, Anna! I want to be your friend! – Disse suave.
- Olha Morgan, conheço bem o seu tipo de homem e cá entre nós, não faz o meu tipo. – Ergueu-se irritada.
- Anna, não é nada disso! – Ergueu-se, dizendo exaltado – Estou apenas oferecendo minha... – Estalou os dedos duas vezes, tentando lembrar a palavra – Amizade. – Segurou sua mão – Escute-me, Anna, reconheço que este é o sonho de muitas meninas, inclusive é o seu e... I can help you! Acredito que tem potencial! – Tentou convencê-la.
- E o que vai querer em troca, Morgan? Hein?! – Indagou desconfiada – Sempre querem algo em troca. – Disse irônica virando a face para o lado esquerdo.
- Sua amizade. Pode ser? – Disse dócil e com seu lindo sotaque americano.
Dênis chegou ao local com as bebidas, arranhou a garganta deixando um som no ar e disse:
- Suas bebidas, altezas. – Brincou.
Morgan convenceu Anna a se sentar e tomaram suas bebidas enquanto ela se acalmava. Eles conversaram bastante e num determinado momento, Morgan perguntou:
- Ei, você gostaria de ir ao cinema?
- Morgan, olha só, já está me convidando para sair! – Fechou o semblante.
- É só como um friend, vamos? – Juntou suas mãos como se estivesse pedindo, por favor.
- Ok., amanhã a noite... mas só como amigos! – Reforçou sorrindo.
...
No dia seguinte, durante a sessão das vinte horas, Morgan se comportou como um velho amigo de Anna, fazendo-a rir de suas bobagens imitando algumas pessoas no cinema. Ele sentiu-se lisonjeado ao ver o sorriso de Anna que antes possuía um semblante decaído de tanto chorar pela decepção que sofrera um dia atrás.
Ao terminar o filme “O homem do futuro”, Anna ergueu-se antes que todas as luzes se acendessem e desceu as escadas. Mas, no penúltimo degrau, ela pisou em falso e desceu ao chão. Morgan instintivamente segurou sua mão, mas desequilibrou e caiu por cima do seu delicado corpo a poucos centímetros do seu rosto. Naquele momento, sentiram como se o mundo tivesse parado; Seus olhos se cruzaram de tal forma que um passou a enxergar a alma do outro.
Um jovem casal observando o ocorrido decidiu ironizá-los cantando a música Back At One.
Morgan olhou para Anna, ergueu uma das sobrancelhas e disse:
- Estamos ficando bons nisso, sweetie. – Sorriu.

Trecho do Romance
Morgan, o amor é Real

(Kim Montebello)

As borboletas

 


Na escuridão da noite
elas sobrevoavam o meu jardim,
num ballet bem colorido
que tinha início, mas não um fim.

Eu, ali observava,
encantada com a magia,
senti-me uma borboleta
e voei bem lá de cima.

(Kim Montebello) 
06/11/13

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O resgate


  A hiperatividade a mantinha em constante alerta. Havia dias que não conseguia dormir mediante a circunstância vivente. Ela estava perdida e tão só naquela imensa floresta fúnebre e amedrontadora. Por mais que tentasse subir nos arbustos para tentar retomar a direção certa, as únicas coisas que conseguia eram farpas espalhadas pelo corpo e rasos cortes que pareciam ser ganhos com a pressão de uma navalha sobre a pele. Apesar da sonolência querer repousar em seu olhos, ela lutava com toda a sua força para não ser vencida.

Sua caminhada levou-a a um riacho e sem acreditar por um instante, coçou os olhos, pois acreditava ver apenas uma miragem. Ao encarar novamente as águas cristalinas, tentou um sorriso com o canto dos lábios e destruída pelo cansaço, caminhou tropeçante em seus próprios pés até a margem, deixando o peso da exaustão vencer sua vontade de permanecer de pé e, imediatamente desceu sobre os joelhos, curvando-se para frente. Após alguns segundos, fez suas mãos de cuia e tomou um pouco de água.

Ela podia ouvir vozes se aproximando e tentou gritar, mas o cansaço a impedia de emitir sons.

- Emilia!Emilia! - diversas vozes se dividiam pela floresta e, ela ali, impossibilitada de sussurrar ao menos um pedido de socorro.

De repente, um helicóptero de resgate sobrevoou o riacho e Emilia, conseguiu encarar o veículo. Com o resto da força que ainda possuia ergueu seu braço direito e, em seguida, notou que o helicóptero mantinha-se em manobra de pouso, poucos minutos depois, viu alguns homens correndo em sua direção.

Emilia sentiu um grande alívio, pois sabia que o resgate estava próximo. Seus amigos e professores que haviam acampado consigo há cinco dias, saíam dos quatro cantos da floresta e se achegavam, muito horrorizados à margem do rio. Uns até choravam em profundo desespero, outros escondiam a face no ombro do amigo. Emilia até compreendia o desespero provindo deles, devia estar feia, mal cheirosa e desnutrida. Mas não! Ela não sabia o que os motivava tanto ao chôro e conseguiu falar quase num sussurro:

- Oi gente, acho que me perdi! - ela os encarou e tentou um pequeno sorriso.

Mas, Jaime, Pedro, Melissa, Pierre, Vanessa, o professor Marcelo e a professora Valéria olhavam mais adiante. Os bombeiros caminhavam mais adiante e ela não compreendia o porque.

- Gente... eu estou aqui! - tentou exaltar-se.

Porém, seus amigos e professores ainda em profundo desespero olhavam mais adiante e, curiosa, Emilia, com o restante de forças que sobrara em sua alma, virou sua cabeça para o lado e viu a imagem que tirava lágrimas de seus conhecidos: os bombeiros resgatavam da água um corpo inerte e já fétido.

- É ela! É a menina da foto! - Sargento Marques esbravejou fazendo meus amigos chorarem e se lamentarem ainda mais.

- Não pode ser! - Pedro, seu namorado, não se continha e banhava sua face em lágrimas.

- Quem é que está morta? Quem é a menina da foto? - inocente, Emilia indagava, porém ninguém a respondia.

Marques se aproximou do professor Marcelo, entregou a tal foto e pronunciou:

- Sinto muito, a causa da morte foi afogamento.

Marcelo comprimiu os lábios e chorou, talvez pela dor da perda, talvez pelo processo que teria que responder futuramente mediante a falta de responsabilidade. Ele, então, baixou os braços e sem perceber virou a foto, neste momento Emilia pode ver... era sua foto favorita, fotografia esta, que havia presenteado Pedro com uma linda declaração de amor em seu verso.

Ela enlouqueceu naquele momento, pois sabia o que havia enfrentado naqueles cinco dias; aquilo não poderia ser apenas uma mera imaginação, foi real! Ela podia sentir. Não! Se estivesse morta ela não teria  passado pelas experiências que viveu ou...

- Deus! - ela imaginou – Será que isto é o purgatório? Será que estou presa num ciclo infinito onde vejo a cada dia o resgate do meu corpo? Não! Não pode ser.

Após alguns minutos, os bombeiros caminharam segurando a maca com o corpo de Emília, um vento provindo do sudoeste fez erguer o lençol branco que antes cobria sua face revelando a sua palidez cadavérica; seus olhos foscos e mortos moviam-se e encaravam seu espírito enquanto era carregada pelos homens de farda.

- Não me deixem aqui! - ela esbravejou; 

Enquanto isso, uma tempestade se aproximava com inúmeros raios cortando o céu – Não me deixem... - ela sussurrou, estendendo o corpo no chão sentindo a areia ferir a lateral esquerda  da face. - Eu não estou morta! - desesperou-se, observando-os partir - Eu vou matar todos vocês, eu juro! - Após pronunciar esta frase, seus olhos esbranquiçaram e um sarcástico sorriso tomou sua face. 


Kim Montebello

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Sonolência



Fecho os olhos e sonho com uma vida infinitamente melhor...
Vida esta, farta de riquezas materiais, brilho, glamour
Sonho que me inclui num patamar superior
Onde deusa, eu sou! Onde vida, realmente exala de mim!
 e me faz ter a importância que realmente desejo ter no antro social.

Mas, ao amanhecer perco essa mágica sonolência
E me vejo novamente cercada de realidade
Onde o estresse exala um odor fétido que bloqueia a fonte de vida
fazendo-me ser uma simples serva da sociedade, não sua deusa.
E a tristeza me comove.

Desejo tanto o anoitecer 
A cada segundo que se completa sinto a vida novamente exalar de mim.
O estopim acontece quando penduro minhas algemas na saída do cotidiano
E volto para o lar provando o doce sabor da sonolência.
E tão logo me entrego a este amor...

Kim Montebello

domingo, 9 de junho de 2013

A vingança de uma Ex


Após as duas da madrugada ela caminhava pelas ruas de Campo Grande com um meio sorriso nos lábios. Suas roupas ousadas e desalinhadas deixavam aparente a farra há pouco vivida. Sua casa não era tão longe da West Show e, por isso, seguia caminhando sem muito com o que se preocupar além de inventar uma boa desculpa para seus pais, já que ela ainda morava com eles.

A noite estava linda. A lua cheia e iluminada estava bem mais próxima da Terra apresentando um tamanho superior ao normal. Valéria abanava-se com uma das mãos enquanto a outra enrolava seu cabelo levemente molhado de suor; a pregadeira na boca acabava de ser retirada para prender seu cabelo em “coque”. Foi quando ouviu alguns passos e sentiu um arrepio nas costelas ; ela pressentiu que alguém a perseguia. Ligou seu “modus” autodefesa, apressou seus passos e, por mais que olhasse para sua retaguarda não conseguia ver ninguém, mas seu sexto sentido jamais a enganara; Ela possuía plena certeza de que alguém a observava.


O medo começou a toma-la por completo, sua casa parecia mais distante do que antes, o perigo que acreditava estar vivendo fazia com que seus olhos gerassem lágrimas.

- Quem está ai? – baixinho e gaguejante ela indagava e voltava a perguntar numa tonalidade mais exagerada enquanto ainda caminhava apressada.

Ninguém a respondeu.

- Merda! – ela sussurrava enquanto corria – Ô casa, por que parece que você está mais distante do que o normal?

Agora correndo pra valer, Valéria não conseguiu ver um braço se erguer em direção a sua face quando passava entre a calçada e um beco escuro. Ela bateu sua face com força no braço de um possível desconhecido e impulsionou suas pernas fazendo-a cair de costas no chão. A dor era grande, mas não maior que o medo que estava sentindo. Enquanto seu nariz sangrava demasiadamente, Lucas saiu da escuridão trazendo sua face à luz.

- Lucas, é você? – ela indagou assustada.

- Há quanto tempo não nos vemos, Valéria! – sorriu com o canto da boca. - Achou que eu ia desistir de você, vadia? Não! Você sempre foi a puta que me dava mais dinheiro.

- Eu não estou mais nesse ramo, Lucas!

Lucas fechou o semblante, ergueu sua mão a fim de ajuda-la e ao erguê-la, ele a tapeou fortemente na face lançando seu sangue a distância.

- Mais que merda! Porque você está me batendo, Lucas?!

- Fica quieta, sua vagabunda! Agora você vai trabalhar novamente pra mim, senão, minha querida vadia, te mato aqui mesmo, ouviu? - ergueu a blusa mostrando uma pistola prateada.

- Eu não faço mais esse tipo de coisa, Lucas, por favor, me deixe ir!

- Não faz mais isso? - ironizou indagante - Não... vagaba, você vai voltar... e vai ser agora! – esbravejou puxando-a pelo antebraço – Afinal, me responda uma coisa: onde você se meteu durante esses dois anos, hein?

- Não te interessa! – enraivecida, respondeu.

- Como é que é?! – agrediu-a fazendo sangrar pelo canto esquerdo da boca.

Valéria fingiu lágrimas enquanto Lucas a puxava pelos cabelos.

- Ái.. ái... ái! Tá bom! Tá bom! - alterou o tom de voz - Eu estava me preparando...

- Se preparando? Pra quê? - Um pequeno silêncio tomou o momento.

- Para acabar com você! – encarou-o, enraivecida.

- Como é que...

Antes de completar a frase, Valéria segurou-o pelas orelhas, colidindo a face de Lucas em seu joelho, convidando-o a soltá-la. Ainda tonto pela agressão sofrida, não conseguiu se defender.

- Agora eu te mato, Valéria! – disse, ao ver seu sangue fluir por suas narinas.

Valéria girou seu corpo lançando sua perna esquerda na face do seu inimigo fazendo-o rodopiar e cair sobre o chão.

- Sua vadia... - ofegante, disse - Eu te pego! 

Porém, a dor que Lucas sentia era maior do que sua capacidade de reação contra àquela mulher.

Mas, aquele era o momento de glória de Valéria que não se satisfez apenas com os golpes já direcionados a Lucas. Ela queria acabar com ele de maneira bem dolorosa e, enraivecida, chutou por várias vezes seu estômago até ver seu sangue fluir também pela boca.

- Ok, já entendi, me desculpa! – com certa dificuldade e consciente de que Valéria estava mais forte do que nunca, ele tentou se redimir.

Valéria, não satisfeita enquanto seu opositor implorava por seu perdão,  pegou sua pistola e, encarando-o, disse:

- Nunca soube usar isso aqui. – apontou para as partes baixas de Lucas, e, em seguida, engoliu em seco – Não é digno de tê-lo!

- Não, por favor, não faça isso! – com dificuldade e sem forças para reagir pediu.

- Não dá – ela inspirou – Foi você que me ensinou a ser tão cruel e a não valer nada. - atirou sem a mínima pena, deixando-o ali, naquela calçada gritando em profunda dor, acreditando agora, que a morte seria menos terrível.

- Não me deixe aqui! Chame uma ambulância! – gritava entre lágrimas de dor e raiva - Eu vou acabar com você, cadela! Eu vou... – contorcia-se mais e mais.

- Você já fez isso várias vezes, seu maldito cafetão. – ela sussurrou para si mesma, já a certa distância. – Por sua causa eu virei esse monstro que hoje sou.


Kim Montebello

domingo, 28 de abril de 2013

Ciúme doentio




Dor, rancor e terror.
Teu ciúme doentio me fez sentir horror!
Perdoe-me Senhor, por odiá-lo tanto assim.

Pensamentos ao vento, sofrimento.
Raiva revertida em tremor, te odeio e não lamento!

Desejo-te o mal por me fazer refém.
Quero-te bem longe de mim e se alguém
Se aproximar de ti, conto a ela as mágoas sofridas,
Minha beleza transgredida em hematomas,
Minha juventude fugindo de mim pelas ondas...

...de desespero, de ódio, de desejo.
O que um dia já foi amor,
Hoje, por teu ciúme doentio, transformou-se em pavor.

Se um dia na liberdade eu pude te amar,
Hoje presa em meus aposentos,
Acorrentada em meu lamento,
Desejo-te bem longe de mim.

P.s: Odeio-te!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pesadelos de uma menina “adulterada”



No mais profundo de minhas entranhas
Cresce um ser, surge uma vida,
Embora a turbulência que vivi para concebê-la
 tenha aflorado uma enorme dor em minh’alma,
Deixo, às vezes, a marca da minha dor
ser diluída pelo pensamento do futuro riso de um inocente alfa.

Fecho meus olhos e vejo o terror
Teu suor insano escorrendo em tua face rebelde
A ira expressa em tua feição
Fez-me assemelhá-lo ao bicho-papão.

Em meio aquela dor que derrotara o amor,
Senti teu prazer em minhas lágrimas
A revolta que em ti cabia mais e mais,
Em mim ressoava no desfalecer após o implorar com mágoa.

De repente, lembro minha infância não tão distante
Minha avó dizendo: “Adultéra menina, adultéra!”
Sob olhar acusador dos outros,
Eu entendia que minha pobre avó
queria que somente eu crescesse.

Mas, vó, eu não gostei de crescer!
Quero ganhar novamente minha infância embrulhada em um papel
A malevolência de um ser capaz de “adulterar” crianças
Foi o suficiente para eu preferir viver no céu.

(Kim Montebello) 

domingo, 7 de abril de 2013

A Deusa e o Anjo



Capítulo I: “A criação”

Há milhares de séculos atrás, ainda quando estávamos com Deus numa outra dimensão espiritual chamada terceiro céu, víamos a perfeição dos seus atos em cada detalhe. Sua soberania sempre fora digna de aplausos e, para o servir, ele criou seus servos denominados Anjos.

Numa tarde agradável, Deus passeou pelas veredas de seu bosque verde e cheio de vida e notou a felicidade dos espíritos eleitos que com toda soberania criou e, naquele momento todos se curvavam diante dEle. 

Sentando-se à beira do lago, Deus avistou o sol cortar o céu e clarear a água refletindo-se como num espelho de grande porte. Ele começou a rabiscar no ar com a ponta do indicador como se estivesse desenhando sem papel e, assim permaneceu até o sol se pôr. Os arcanjos Miguel e Gabriel avistavam a certos passos a postura do Soberano e, por mais que não vissem nada, possuíam fé de que Deus estava criando algo muito especial. De repente, Ele baixou as mãos sobre o colo e sorriu olhando fixamente para os rabiscos que acabara de fazer no ar. Os anjos olhavam para Ele esperando o milagre da criação. Deus, então, disse:

- Haja vida! – em seguida soprou.

Uma menina de aproximadamente cinco anos tornava-se um espírito vivente à medida que, o sopro de Deus passava por seu corpo trazendo-a a vida. Ao término do sopro vital, Deus tocou a testa da nova criação e imediatamente, a pequena notável abriu seus olhos clareando o ambiente com sua íris azul anil.

- Criada a minha imagem. Assim seja! – sussurrou Deus, ao ver a alegria da sua nova criação pulando e correndo com um lindo sorriso de pura felicidade e inocência em seus lábios infantis; ele encantou-se pela pequena menina quando ela se aproximou de Si e lhe beijou a face com carinho abraçando-o repentinamente. Ele acariciou sua face com amor fraternal e, em seguida, disse para que todos ouvissem: – Esta é minha doce filha Samara! Ela é uma deusa feita a minha imagem! Respeite-a como a princesa deste reino! – em seguida, a abraçou e lhe deu a mão seguindo para seu Palácio.

Levou-a para um quarto só para si, cheio de regalias e de conforto e deitou-a sobre a cama e por alguns segundos estudou-a vendo a perfeição que havia criado. Uma pequena menina linda, com olhos azuis e cabelos negros e lisos até os ombros, um rosto angelical alvo e uma boca avermelhada, sintonizava a criação mais perfeita.

- Samara, durma bem, querida. – sussurrou Deus levantando-se.

Em seguida, ordenou que chamassem Ariel e Uriel até seu trono divino. Imediatamente, os dois anjos chegaram ao seu trono e curvaram-se perante Deus. Ele os encarou e ordenou:

- Entre muitos outros servos, escolho vocês dois para guardarem minha filha Samara e a esta servirem por todo tempo até segunda ordem! Entenderam?

- Sim, querido Pai! – ambos responderam ao mesmo tom.

- Agora vão! – disse firme.

Saindo do ambiente, eles seguiram aos aposentos da nova deusa.

Miguel se aproximou e, ao seu lado, perguntou a Deus:

- Pai, não foi Ariel o único Anjo a ser criado com sentimentos?

- Sim, Miguel.

- Com todo o respeito, Pai, isso não poderia provocar futuros problemas ao Reino Celestial? – Indagou Gabriel.

Deus encarou seu arcanjo, pousou a mão em seu ombro direito e disse:

- Deixe por agora, Miguel! – soou firme e decidido. 

Deus portava um leve sorriso nos lábios, enquanto o arcanjo emudeceu, curvando levemente a sua cabeça, como símbolo de respeito.

...

OBS: O que você achou da história? Acha que devo continuá-la? Sua opinião é importante.

Kim Montebello