Após as duas da madrugada ela caminhava pelas ruas de Campo Grande com um meio
sorriso nos lábios. Suas roupas ousadas e desalinhadas deixavam aparente a
farra há pouco vivida. Sua casa não era tão longe da West Show e, por isso,
seguia caminhando sem muito com o que se preocupar além de inventar uma boa
desculpa para seus pais, já que ela ainda morava com eles.
A
noite estava linda. A lua cheia e iluminada estava bem mais próxima da Terra
apresentando um tamanho superior ao normal. Valéria abanava-se com uma das mãos enquanto a
outra enrolava seu cabelo levemente molhado de suor; a pregadeira na boca
acabava de ser retirada para prender seu cabelo em “coque”. Foi quando ouviu alguns passos e sentiu
um arrepio nas costelas ; ela pressentiu que alguém a perseguia. Ligou seu “modus”
autodefesa, apressou seus passos e, por mais que olhasse para sua retaguarda
não conseguia ver ninguém, mas seu sexto sentido jamais a enganara; Ela possuía
plena certeza de que alguém a observava.
O medo começou a toma-la por completo, sua casa parecia mais distante do que antes, o perigo que acreditava estar vivendo fazia com que seus olhos gerassem lágrimas.
- Quem está ai? – baixinho e gaguejante ela indagava e voltava a perguntar numa tonalidade mais exagerada enquanto ainda caminhava apressada.
Ninguém a respondeu.
- Merda! – ela sussurrava enquanto corria – Ô casa, por que parece que você está mais distante do que o normal?
Agora correndo pra valer, Valéria não conseguiu ver um braço se erguer em direção a sua face quando passava entre a calçada e um beco escuro. Ela bateu sua face com força no braço de um possível desconhecido e impulsionou suas pernas fazendo-a cair de costas no chão. A dor era grande, mas não maior que o medo que estava sentindo. Enquanto seu nariz sangrava demasiadamente, Lucas saiu da escuridão trazendo sua face à luz.
- Lucas, é você? – ela indagou assustada.
- Há quanto tempo não nos vemos, Valéria! – sorriu com o canto da boca. - Achou que eu ia desistir de você, vadia? Não! Você sempre foi a puta que me dava mais dinheiro.
- Eu não estou mais nesse ramo, Lucas!
Lucas fechou o semblante, ergueu sua mão a fim de ajuda-la e ao erguê-la, ele a tapeou fortemente na face lançando seu sangue a distância.
- Mais que merda! Porque você está me batendo, Lucas?!
- Fica quieta, sua vagabunda! Agora você vai trabalhar novamente pra mim, senão, minha querida vadia, te mato aqui mesmo, ouviu? - ergueu a blusa mostrando uma pistola prateada.
- Eu não faço mais esse tipo de coisa, Lucas, por favor, me deixe ir!
- Não faz mais isso? - ironizou indagante - Não... vagaba, você vai voltar... e vai ser agora! – esbravejou puxando-a pelo antebraço – Afinal, me responda uma coisa: onde você se meteu durante esses dois anos, hein?
- Não te interessa! – enraivecida, respondeu.
- Como é que é?! – agrediu-a fazendo sangrar pelo canto esquerdo da boca.
Valéria fingiu lágrimas enquanto Lucas a puxava pelos cabelos.
- Ái.. ái... ái! Tá bom! Tá bom! - alterou o tom de voz - Eu estava me preparando...
- Se preparando? Pra quê? - Um pequeno silêncio tomou o momento.
- Para acabar com você! – encarou-o, enraivecida.
- Como é que...
Antes de completar a frase, Valéria segurou-o pelas orelhas, colidindo a face de Lucas em seu joelho, convidando-o a soltá-la. Ainda tonto pela agressão sofrida, não conseguiu se defender.
- Agora eu te mato, Valéria! – disse, ao ver seu sangue fluir por suas narinas.
Valéria girou seu corpo lançando sua perna esquerda na face do seu inimigo fazendo-o rodopiar e cair sobre o chão.
- Sua vadia... - ofegante, disse - Eu te pego!
Porém, a dor que Lucas sentia era maior do que sua capacidade de reação contra àquela mulher.
Mas, aquele era o momento de glória de Valéria que não se satisfez apenas com os golpes já direcionados a Lucas. Ela queria acabar com ele de maneira bem dolorosa e, enraivecida, chutou por várias vezes seu estômago até ver seu sangue fluir também pela boca.
- Ok, já entendi, me desculpa! – com certa dificuldade e consciente de que Valéria estava mais forte do que nunca, ele tentou se redimir.
Valéria, não satisfeita enquanto seu opositor implorava por seu perdão, pegou sua pistola e, encarando-o, disse:
- Nunca soube usar isso aqui. – apontou para as partes baixas de Lucas, e, em seguida, engoliu em seco – Não é digno de tê-lo!
- Não, por favor, não faça isso! – com dificuldade e sem forças para reagir pediu.
- Não dá – ela inspirou – Foi você que me ensinou a ser tão cruel e a não valer nada. - atirou sem a mínima pena, deixando-o ali, naquela calçada gritando em profunda dor, acreditando agora, que a morte seria menos terrível.
- Não me deixe aqui! Chame uma ambulância! – gritava entre lágrimas de dor e raiva - Eu vou acabar com você, cadela! Eu vou... – contorcia-se mais e mais.
- Você já fez isso várias vezes, seu maldito cafetão. – ela sussurrou para si mesma, já a certa distância. – Por sua causa eu virei esse monstro que hoje sou.
Kim Montebello
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