quinta-feira, 14 de março de 2013

Impotência



Hoje me sinto impotente na calada da noite,
Quando ouço a ventania urrar atingindo a janela do meu quarto.
Noutro tempo, os teus braços me aqueciam,
E quando o medo me assolava, você,
Tocando levemente meu queixo erguia-o até seus lábios
Impactando-os com carinho e, enfim,
em ti encontrava descanso.

Mas, e agora?
Como vencerei o medo?
Se ouvindo a ventania novamente urrar em minha janela
Meu velho e bom amante dorme o sonho dos deuses,
e urra pelas narinas quase abafando os gritos do vento
Que mesmo baixinhos ainda ouço e temo.

Não sinto mais o teu carinho,
não tenho mais o teu desejo,
Meu corpo velho e vencido pela gravidade,
Não te impressiona mais como noutro tempo.

E mesmo se meus seios ainda resplandecessem como os cachos de uvas
E minhas ancas ainda fossem bonitas como aos vinte anos,
Você, ainda assim, num gesto frio,
Beijaria minha fronte e, dando-me as costas, diria:
- Boa noite!

Tua impotência tornou-me impotente!
Se eu soubesse teria aproveitado mais quando ainda podia,
Não inventaria tantas dores de cabeça
E tanto quanto a mim, também mais a ti satisfaria.

(Kim Montebello)

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